18.8.10

Águas



Construir uma programação tendo como pretexto a Água é, normalmente, receita para asneira ou para algo muito pouco interessante. É daquelas palavras que significam muito, logo, pretexto para todas as liberdades, para tudo e para nada. Ora, o que a Haus der Kulturen der Welt tem feito nos últimos 2 Verões é isso mesmo, construir um programa a partir da Água. Nos primeiros anos concentraram-se nos mares do sul e das Caraíbas e este ano percorrem os grandes rios, o Danúbio, o Amazonas e o Nilo. As propostas não se reduzem a concertos - Omar Souleyman (que tocou lá na passada sexta feira; aonde é que eu já vi este senhor??), Geoffrey Oryema ou Sebastião Tapajós são alguns dos convidados -, mas prevêem também um ciclo de cinema, de conferências ou ainda uma rádio. É um excelente exemplo de uma programação inteligente partindo de uma premissa muito básica, compreensível pela maior parte dos públicos e enquadrando-se na na missão da organização serenamente.

Vale a pena, por isso, comparar esta simples abordagem ao ziguezagueante Festival dos Oceanos que, tendo a água igualmente como ponto de partida, nos oferece algo de difícil compreensão. Começando pela bóia que aqueceu o Camões nas últimas semanas, em pleno Chiado, e terminando numa comunicação feita à última da hora e equívoca. E é pena, já que o Festival dos Oceanos, o original, tinha deixado saudades, pela competência da programação. E é pena também que se sobreponha às Festas da Cidade e à programação entusiasmante e abrangente que a EGEAC nos anda a oferecer desde a passada quinta feira com as propostas do "Lisboa na Rua".

9.8.10

Videojogos

Um post muito crítico de Alex Ross sobre a recente moda de apresentar ao vivo e em versão orquestral, músicas criadas para videojogos. Tenho ideia que esta digressão, ou um projecto semelhante, passou recentemente pelo Campo Pequeno. A abordagem de AR incide particularmente no mau serviço público prestado pela PBS que já não presta a atenção devida à música mais erudita, enquanto uma das pessoas entrevistadas no pequeno filme aponta os óbvios benefícios deste tipo de exercício para os jovens consumidores de jogos na convivência com obras orquestrais. Não sei exactamente o que faz os jovens sentirem-se atraídos por música erudita desde tenra idade, e sei que enfiar-lhes pelas goelas abaixo a Salome de Strauss dará, provavelmente, mau resultado, daí que não me choquem este tipo de propostas. Mas também não me parece que sejam, só por si, suficientes para que as crianças comecem a construir as suas colecções de música clássica.

4.8.10

O recital de piano


A crise do recital de piano, em artigo na Standpoint.
If the piano recital is to survive, it needs a mix of different ingredients: genuinely great artists with individuality and sound artistic judgment; their accurate recognition by halls, record companies and audiences; an alternative setting in which to play and listen; and performers whose energy can successfully reimagine a 19th-century concept for the 21st century. Otherwise, we can all go back to sleep.

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