13.3.10

Arts Manifesto

O partido conservador inglês apresentou o seu Arts Manifesto em vésperas de poderem regressar ao poder. O tempo corre rápido hoje em dia, e o ar ainda mais, mas vésperas de eleições são sempre boas oportunidades para aferirmos o ar do tempo em termos de estratégias fazedoras de políticas.

A Direita costuma ser silenciosa nestas coisas - chamemos-lhe 'faltinha de jeito' - o que não deveria ter razão de ser. Não nos devemos esquecer que foi o gaullista Malraux o Pai do MC francês, farol que ainda hoje guia os "povos da cultura". Antes deste manifesto, apenas o Policy Exchange, o think tank que até há pouco tempo era o mais próximo de David Cameron, tinha apresentado um documento (Culture Vultures) que questionava as conquistas dos trabalhistas nos últimos 10 anos, anos supostamente áureos para as artes no Reino Unido. Este manifesto segue linhas de argumentação semelhantes, procurando afastar-se do utilitarismo das actividades culturais e artísticas (pobrezinhos, imigrantes, casas devolutas, áreas industriais, tudo seria curado miraculosamente pelo poder da criatividade; fenómeno que já podemos verificar por cá de forma mais ou menos clara) e recentrando a discussão na excelência da actividade artística.

O principal medo (e aqui temos de dar razão aos queixosos) é que a subvenção pública das artes termine ou seja ainda mais amputada. Jeremy Hunt, o equivalente inglês ao ministro da cultura da oposição garante-nos que, apesar de não saber o estado em que vai encontrar as finanças do ministério (caso lá chegue, agora em Maio), acredita no princípio do financiamento das artes.



O mais interessante continua a ser, no entanto, a insistência na diversificação dos mecanismos de autonomia e emancipação das organizações culturais, tuteladas ou não pelo Estado. Concretizando, procura promover a constituição ou o crescimento dos endownments, condicionando a maior ou menor subvenção tutelar a essa capacidade. Em Portugal, só as Fundações é que dispõem de endownments, ou pelo menos deveriam, sabendo nós que muitas das Fundações nascem subcapitalizadas, tendo como cartão de visita muitas vezes pouco mais do que património imobiliário. Nós por cá, continuamos ainda a discutir para quem revertem as receitas dos lápis e das canecas da loja do museu.

É igualmente estimulante ver também o alinhamento do 'manifesto para as artes' com as demais propostas sectoriais do eventual novo governo Conservador, alinhamento esse que se concretiza no sentido de devolução de autonomia e reponsabilidades às comunidades locais. Ainda assim, os senhores ainda não ganharam nada, pelo que é cedo para deitarmos foguetes, e sabemos também que a "devolução às comunidades" nem sempre significa um Estado menos onerado.


A cabeça, acima, é do Cícero,

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