19.12.10

Spider Man


















Uma excelente oportunidade para se perceber a mecânica financeira de uma grande produção da Broadway. Os números são impressionantes e o tempo que demora a recuperar o investimento assustador.. Aqui.

15.12.10

Musing on Culture

Importante texto da Maria Vlachou no seu blog, que subscrevo inteiramente.

8.12.10

Crises que vêm por bem. Contribuições para um sector cultural diferente


















1. Esqueçamos por um momento o mérito e oportunidade dos cortes ao financiamento à cultura por parte do Ministério. A presente crise apresenta-se como uma oportunidade única para rever os pilares onde assenta todo o tecido cultural português, ainda aprisionado a um modelo ultrapassado, ancorado em excessos românticos e voluntaristas, e caracterizado por uma crónica dependência do Estado.

2. A constatação que o presente modelo não é sustentável, não respeita nem promove a independência do tecido cultural, a autonomia e liberdade dos artistas, é crucial para dar os necessários passos para uma pragmática revisão da relação dos artistas e organizações culturais – sob a tutela ou não do Ministério da Cultura - com o Estado.

3. Importa ainda frisar que a presente crise, não obstante servir de excelente pretexto para as transformações que devem ser concretizadas, não é causa dos problemas do sector, mas tão somente uma das suas manifestações.

4. Enquanto o sector cultural depender quase exclusivamente da figura tutelar que é o Estado, não só como única fonte de financiamento, mas como instigador de estratégias de internacionalização, de promoção da criação contemporânea, de difusor e legitimador de retóricas importadas e burocratas, não se deverão esperar quaisquer modificações na forma como o sector trabalha.

5. O sector cultural não é tão independente quanto devia ser nem dispõe de mecanismos para o ser. Uma parte significativa do sector não parece querer sê-lo sequer. Há alterações estruturais na forma como o sector cultural trabalha e se relaciona com a sociedade, com eventuais financiadores ou com os seus públicos que podem ser concretizadas. No entanto estas alterações têm que partir das organizações culturais, dos teatros nacionais às associações, das micro companhias de dança aos museus. Não deverá partir do Ministério da Cultura ou de qualquer outro serviço sob a sua tutela, mas sim dos artistas e das organizações que acolhem ou produzem as suas obras.

6. Há duas excepções em Portugal, no entanto, que parecem confirmar que uma outra forma de gerir a actividade artística e cultural é possível: a Casa da Música e a Fundação de Serralves. Em ambos os casos subjaz, em primeiro lugar, um projecto artístico sólido, atento à envolvente social, politica ou económica. Mas para além destas características, estes dois projectos souberam encontrar mecanismos – um modelo legal inovador e vontade de fazer as coisas de forma diferente – que permitem uma representatividade de todos os stakeholders (os financiadores mas não só) na sua estrutura.

7. Este modelo organizacional tem-se revelado garantia de transparência, agilidade, capacidade acrescida de angariação de financiamentos alternativos, estratégias pedagógicas arrojadas e de captação de novos públicos, de introdução de ferramentas de gestão modernas ou de um inovador posicionamento internacional (veja-se a aparentemente inocente mudança de nome da Orquestra Nacional do Porto para Orquestra Sinfónica do Porto casa da Música).

8. A presença de privados - filantropos, o sector empresarial ou membros de reconhecido mérito cultural ou científico da sociedade - nos órgãos sociais das organizações culturais traz óbvios ganhos para o funcionamento quotidiano destas, da supervisão e aconselhamento ao financiamento complementar.

9. A relação mecenática deverá, de igual forma, começar nos órgãos sociais e não com um telefonema do Ministério da Cultura para uma qualquer empresa. É nos órgãos sociais da organização que deverão nascer, e ser acarinhados, os laços afectivos entre esta e os seus públicos, a comunidade de eventuais patrocinadores e mecenas, com a comunidade escolar ou científica.

10. A questão de um eventual choque entre a Direcção Artística ou de Programação e a presença de privados na organização não deverá ser motivo de preocupações. A experiência da maior parte das grandes organizações culturais internacionais assim nos demonstra.

11. Importa salientar que um modelo que promova este tipo de autonomia, libertando a organização de alguns constrangimentos que a total dependência do Estado cria, não é exclusivo da figura legal “Fundação”. Estes mecanismos podem ser implementados nas associações (afinal, o modelo administrativo mais comum no sector cultural português), ou em vários outros modelos administrativos existentes. Haverá sempre ressalvas ou limitações legais nalguns casos, mas o fundamental passará por uma cultura de governo diferente que, se bem implementada, se apresentará como contributo fundamental para um tecido cultural emancipado e responsável pelo seu futuro.

27.11.10

ON THE WRONG TRACK: BUDGET CUTBACKS AT THE HAUS DER KULTUREN DER WELT

Camaradas, rejubilai. Não estais sózinhos. O comunicado da Haus der Kulturen der Welt desta semana:

The Federal Foreign Office, which with the State Minister at the Federal Chancellery for Culture and Media provides the basic funds for programs at the Haus der Kulturen der Welt, has resolved to reduce our regular funding by 20 percent. This will mean a loss of €250,000 for our 2011 program - and the forced cancellation of one of our festivals. The intended cutbacks come at very short notice. Because many contracts have already been concluded for projects over the next several years, our credibility as a contractual partner is threatened. Secure basic program funding is a precondition for attracting additional funds for specific projects. Should the announced measures go forward, not only will the €250,000 be lost, but potentially also special program funding.

This poses an unacceptable shortfall. We need every euro for the productions and projects that we promote. The Haus der Kulturen der Welt is neither a venue for prefabricated programs nor a mere station for touring events. Original cultural events are produced and important debates initiated here. Our strength in creating innovative programs is directly endangered by the cutback planned by the Foreign Office.

We are engaged in talks to find a solution to this problem. We will keep you informed as the situation develops.

20.11.10

We Fund!



WeFund é uma organização que se propõe angariar financiamento para espectáculos (e outros projectos de natureza criativa) recorrendo ao sistema de crowdsourcing, um pouco à semelhança do projecto Kiva. A possibilidade de se acompanhar o ponto de situação sobre a angariação, recorrendo a infografia muito simples, é apelativa e compreensível. Por si só, não é solução para nada, mas sempre é mais uma fonte de financiamento. No FT d'hoje.

16.11.10

Henryk Górecki

For a fund drive during the summer of 1992, KCRW, the Santa Monica College public radio station, ordered 25 copies of a newly released Nonesuch recording of Henryk Górecki’s Symphony No. 3 as a membership premium.

General Manager Ruth Seymour aired a little bit of this slow “Symphony of Sorrowful Songs,” as the Polish composer subtitled his 54-minute score for soprano and orchestra. Written in 1976, it sets texts of lamentation, including a prayer inscribed on the wall of a prisoner’s cell in a Gestapo headquarters in Poland.

Seymour told her listeners to stop what they were doing, light a candle, maybe pour a glass of wine and attend to this important minimal, modal music. Many subscribers said they pulled over to listen. Those 25 premiums were snapped up in an instant. More were ordered.

It didn’t take long for both public and independent radio stations around the country to get wind of this. And by winter, London had jumped on the Górecki bandwagon, as well. The royal family reportedly lighted candles, poured wine and listened, along with bankers chilling out and punk rockers as they came down from amphetamines. One British radio station played the symphony daily for weeks on end. Dawn Upshaw, the soprano on the recording (which also featured David Zinman conducting the London Sinfonietta), was ogled like a rock star when walking through Piccadilly Circus.

The recording, which sold more than a million copies, reached No. 6 on the U.K. top 10 pop chart and was the No. 1 classical recording in the U.S. for a full year. Hardly a week went by in 1993 without an orchestra somewhere in the world playing Górecki’s Third Symphony. The Los Angeles Philharmonic’s contribution to the Los Angeles Festival that summer was a performance of the symphony at the Hollywood Bowl.

9.10.10

Met HD


















Balanço de 5 anos de transmissões em directo das óperas da Metropolitan Opera. Artigo com números impressionantes. Em Lisboa começam na próxima semana e ao longo do ano será possível assistir a cada um das 12 (12 !) produções da temporada.

E uma passagem que remete para o nome deste blog:
"The costs of running performing arts companies is not changing," Gelb said, "and the only way we can make financial ends meet for an institution like ours is to find an appropriate blend of revenue from ticket sales, donations and new revenue sources."

4.10.10

Vanguardas

























Para além da ongoing saga que é a discussão do novo edifício do Whitney Museum, outra novela interessante de acompanhar é a que vai descrevendo a turbulência que o ICA vem vivendo nos últimos tempos. Este texto do Independent coloca em perspectiva algum dos principais problemas que se colocam a esta organização que cresceu e se tornou famosa por albergar o melhor do experimentalisto e das vanguardas dos últimos 50 anos. É uma questão de redefinição da sua missão ou mero realinhamento da programação? Se esse realinhamento acontecer terá obrigatoriamente de passar por uma análise do que é vanguarda e experimental nesta época de excesso de oferta cultural e em que, aparentemente, tudo já foi mostrado e experimentado. Aonde estão as vanguardas contemporâneas? Essa parece ser a função do ICA nos próximos tempos.

2.10.10

Washington Ballet



Quem não tem gato, caça com rato. Ou, para grandes males, grandes remédios. O Washington Ballet vai prescindir, nos próximos espectáculos, de orquestra, recorrendo a música gravada. Não há dinheiro. Aqui

26.9.10

Anatomia de um espectáculo

A primeira parte da teatralogia de Wagner, o Anel do Nibelungo estreia hoje na Metropolitan Opera em NY. Esta estreia é um acontecimento e as várias notícias - quase todas do NYT -, e a leitura do site da Ópera, permitem-nos desconstruir o esforço que uma produção desta envergadura exige. Na ausência de boa literatura, ou de estarmos envolvidos na produção, é uma excelente maneira de se aprender umas coisas.

A produção
“Das Rheingold,” which opens on Sept. 27 and begins the Met season, will introduce the first new “Ring” cycle at the house in nearly a quarter-century. Any mounting of Wagner’s four-opera epic, “Der Ring des Nibelungen,” is a huge undertaking, but for the high-profile Met the stakes are especially high.

A comunicação
Uma das coisas que a MET fez foi espalhar pela cidade estes cartazes em formato mupi, nas paragens de autocarros e noutros locais banais. A imagem remete mais para o universo de uma grande produção de Hollywood, mas afinal a fonte de inspiração, o acervo mitológico universal, é comum.















HD


Há várias organizações culturais espalhadas um pouco por todo o mundo a fazer transmissões em directo em HD, via satélite e em directo, das óperas da temporada. A Fundação Gulbenkian, na sua temporada de música, está associada a estas transmissões (a primeira é já no dia 16 de Outubro com este 'Ouro do Reno', precisamente). É curioso ver que até organizações de NI, como a Brooklyn Academy of Music, que está mesmo ali ao lado, fazem estas transmissões. Quem já viu, conta-me que nos intervalos, à falta de se poder ir ao bar da Metropolitan Opera, as câmaras continuam pelos corredores e pelos camarins por trás do palco.


Ways to experience the opening night

São 5, as formas de se assistir à estreia, hoje à tarde.


Fotografias
Aqui

Opinião
Mas ainda mais interessante, é o artigo de opinião de Alex Ross em resposta aos críticos dos custos da produção da tetralogia completa (só esta primeira parte custa 16 milhões dólares!). Atenção para o facto, para o qual AR alerta, de que nas contas apresentadas do último ano fiscal a Met apenas terá recebido USD698.000 provenientes de fundos governamentais/estaduais/cidade. Tudo o resto provém de receitas próprias, donativos, patrocínios, merchandising e, claro, bilheteira.

Estreia daqui a bocado...

18.8.10

Águas



Construir uma programação tendo como pretexto a Água é, normalmente, receita para asneira ou para algo muito pouco interessante. É daquelas palavras que significam muito, logo, pretexto para todas as liberdades, para tudo e para nada. Ora, o que a Haus der Kulturen der Welt tem feito nos últimos 2 Verões é isso mesmo, construir um programa a partir da Água. Nos primeiros anos concentraram-se nos mares do sul e das Caraíbas e este ano percorrem os grandes rios, o Danúbio, o Amazonas e o Nilo. As propostas não se reduzem a concertos - Omar Souleyman (que tocou lá na passada sexta feira; aonde é que eu já vi este senhor??), Geoffrey Oryema ou Sebastião Tapajós são alguns dos convidados -, mas prevêem também um ciclo de cinema, de conferências ou ainda uma rádio. É um excelente exemplo de uma programação inteligente partindo de uma premissa muito básica, compreensível pela maior parte dos públicos e enquadrando-se na na missão da organização serenamente.

Vale a pena, por isso, comparar esta simples abordagem ao ziguezagueante Festival dos Oceanos que, tendo a água igualmente como ponto de partida, nos oferece algo de difícil compreensão. Começando pela bóia que aqueceu o Camões nas últimas semanas, em pleno Chiado, e terminando numa comunicação feita à última da hora e equívoca. E é pena, já que o Festival dos Oceanos, o original, tinha deixado saudades, pela competência da programação. E é pena também que se sobreponha às Festas da Cidade e à programação entusiasmante e abrangente que a EGEAC nos anda a oferecer desde a passada quinta feira com as propostas do "Lisboa na Rua".

9.8.10

Videojogos

Um post muito crítico de Alex Ross sobre a recente moda de apresentar ao vivo e em versão orquestral, músicas criadas para videojogos. Tenho ideia que esta digressão, ou um projecto semelhante, passou recentemente pelo Campo Pequeno. A abordagem de AR incide particularmente no mau serviço público prestado pela PBS que já não presta a atenção devida à música mais erudita, enquanto uma das pessoas entrevistadas no pequeno filme aponta os óbvios benefícios deste tipo de exercício para os jovens consumidores de jogos na convivência com obras orquestrais. Não sei exactamente o que faz os jovens sentirem-se atraídos por música erudita desde tenra idade, e sei que enfiar-lhes pelas goelas abaixo a Salome de Strauss dará, provavelmente, mau resultado, daí que não me choquem este tipo de propostas. Mas também não me parece que sejam, só por si, suficientes para que as crianças comecem a construir as suas colecções de música clássica.

4.8.10

O recital de piano


A crise do recital de piano, em artigo na Standpoint.
If the piano recital is to survive, it needs a mix of different ingredients: genuinely great artists with individuality and sound artistic judgment; their accurate recognition by halls, record companies and audiences; an alternative setting in which to play and listen; and performers whose energy can successfully reimagine a 19th-century concept for the 21st century. Otherwise, we can all go back to sleep.

6.4.10

+ Cultura Popular

Conversa interessante sobre a importância da cultura popular no mundo das coisas sérias.

1.4.10

with no experience of arts administration and too much time on his hands


As temáticas relacionadas com o mercado de arte são naturalmente do foro do irmão uutz, mas num número de Outubro passado da Apollo sobre o despedimento do staff responsável pelo departamento fotográfico do Courtauld Institute em Londres, não podia não comentar o seu editorial, mesmo com 6 meses de atraso. O director da revista diz, a páginas tantas, que a culpa do que se está a passar em tão venerável instituição is yet another organisation with an amiable but overwhelmed director and an ex-banker chairman of trustees with no experience of arts administration and too much time on his hands . Obcecado como sou pelas questões da governance, pela crença cega e quase parola pela diversificação dos orgãos sociais e respectivas proveniências profissionais dos membros dos boards, esta passagem obriga-me pensar.

O artigo pode ser acedido aqui, mediante registo gratuito.

31.3.10

O Fórum Europeu das Indústrias Culturais



Creativity by itself is nothing; it's no more to be applauded than being good-looking or having a sunny day. There must be distillation, form, expertise, meaning and a desire to communicate (Richard Eyre, nos seus diários sobre os anos passados à frente do National Theatre)

Acabo de regressar do Fórum Europeu das Indústrias Culturais, em Barcelona, organizado pela Espanha, país que ocupa a presidência rotativa da União Europeia. A minha experiência anterior neste tipo de reuniões resumia-se ao Fórum Cultural Europeu que teve lugar em Bruxelas em Setembro passado. Na altura era difícil não ficar intrigado com o ânimo triunfalista da Comissão Europeia procurando ‘enfiar-nos pelas goelas abaixo’ a bondade dos 3 pilares da agenda cultural Europeia. Isso acabou por resultar num ambiente um pouco artificial e excessivamente diversificado (ironia do destino, sendo a diversidade cultural um dos desses pilares estratégicos acima referidos). É de assinalar que o rácio entre “gente da cultura” e”gente do mundo empresarial” pela primeira vez foi mais equilibrado, a favor dos ‘empresários’. Este aspecto foi sendo relembrado ao longo dos 2 dias com bastante ânimo (o meu incluído). Logo numa das primeiras apresentações da manhã alguém descrevia esta reunião como um encontro de profissionais e empresários. Colocar ênfase neste aspecto (atenção, eu sei que são actividades com características muito especiais, ainda assim), e realizar o encontro na Câmara do Comércio local, um edifício com 700 anos que incluía uma antiga escola de artes e ofícios, não poderia ser mais apropriada.

Este encontro de Barcelona, que formalmente foi muito semelhante ao de Bruxelas, revelou-se bem mais interessante e na maior parte dos painéis conseguiu-se discutir assuntos muito concretos sobre as questões que se colocam ao sector. Não quer isto dizer que se soubesse do que se estava a falar. Quase ninguém sabe e os maiores peritos presentes (Andy Pratt do Kings’ College, por exemplo) eram os primeiros a afirmá-lo. A discussão oscilou entre o desvendar dos 5 eixos que estruturarão o Livro Verde para as Indústrias Culturais e Criativas na Europa, a desorientação total nas questões relacionadas com a propriedade intelectual e o conhecimento aprofundado de algumas áreas sub-sectoriais por parte de alguns dos presentes.

Esta reunião serviu para separar as águas: a retórica tradicional de Bruxelas, cheia de boas intenções, fundos estruturais e livros de várias cores, e o testemunho muito concreto dos agentes no terreno, com discursos muito desassombrados , bem conscientes da Europa, enquanto continente importador, e que tem de concentrar os seus esforços nos seus consumidores, prestar atenção às suas necessidades e encontrar formas de suprir as suas necessidades. Como alguém referia, 80% do cinema visto na Europa é importado, 80% dos videojogos jogados na Europa são importados, e 99% dos portais de busca e redes sociais são provenientes de fora da Europa (curiosamente, ou talvez não, Espanha, exporta mais produtos na indústria editorial do que importa). O sector tem características muito próprias, os seus profissionais, artistas, empresários mantêm-se ainda ‘abaixo do radar’ (os SOHOs, small offices, home offices, sigla nova para mim, sempre a aprender), pelo que é importante encontrar pontos de contacto com as políticas industriais generalistas (os códigos industriais e ocupacionais, o tratamento estatístico, formas de “detectar” os micro/nano negócios), e ao mesmo tempo encontrar forma de os libertar dos constrangimentos burocráticos que a economia formal contemporânea obriga.

25.3.10

o nariz



the story is very simple, a man wakes up one morning and finds that is nose is gone

.......

he finds to his horror that his nose refuses to speak to him

The £666.000 question




£600.000 foi a dimensão do buraco encontrado nas finanças da London Philharmonic Orchestra. Parece que o seu Director Geral e Financeiro viu-se na contingência de ter que pagar obras em sua casa e umas outras despesas pessoais e recorreu à reserva da entidade patronal. Claro que estes incidentes são um luxo das organizações que dispõem de independência para gerir as suas finanças (e neste caso parece que o próprio auditor externo, multinacional experimentada, 'deixou passar'). É terrível ter inveja das organizações culturais mal geridas, mas independentes, ou bem geridas mas que ainda assim não têm sucesso, enfim, de organizações que dispõem do seu futuro. Bom ou mau. Beneficiando ou pagando pelas suas opções certas ou erradas.

[Sleeveface, The Turning Point, Los Angeles Philarmonic Orchestra, 1977]

24.3.10

A Spark


A SPARK é uma empresa de consultoria cultural, relativamente recente, com base em Lisboa, mas com extensões nos EUA, Europa e América Latina, e que se propõe estimular o crescimento contínuo e sustentável das instituições de arte, através da Formação de Públicos, Fundraising e Branding emergentes e inovadoras. Palavras deles e eu acredito.


Declaração de interesses: são meus amigos.

22.3.10

Grateful Dead



É discutível a oportunidade de colocar o divórcio do Paul McCartney na capa da imprensa diária, como aconteceu há alguns anos. Não me refiro aos tablóides, mas aos jornais "sérios". Neste caso, tratava-se mais do que mera coscuvelhice. O senhor é um ícon e a elevação deste evento na sua vida à primeira página da imprensa é revelador do peso da cultura popular de um país (no sentido de pop culture, não folclore ou etno ciências) e ajuda a perceber um conjunto de coisas sobre o seu povo ou sobre as suas organizações. E é pena que não se dê mais importância à cultura popular na produção académica e científica, ou que esta seja objecto frequente de análise política, económica ou até satírica. Isto a propósito da influência da carreira dos Grateful Dead no mundo dos negócios e da gestão, e não só. Este artigo demonstra as capacidades de uma banda (com uma legião de fans doentes e doentios, principalmente nos Estados Unidos) na estruturação da sua estratégia de negócio, numa altura em que os principais teóricos do customer value ainda andavam a testar os primeiros passos, incluindo uma estrutura de governance próxima de uma normal empresa (incluindo CEO rotativo e conselho de administração), a criação de redes sociais entre os seus fans, entre várias outras inovações. Estamos a falar dos anos 60 e 70, e o seu propósito incansável de fazerem digressões quase de forma ininterrupta e, de uma certa forma, o menor ênfase colocado na produção de discos, é quase visionária numa altura em que a indústria musical sobrevive fundamentalmente de concertos.

19.3.10

Creative Capital



Vamos chamar-lhe filantropia assistida. Uma organização que faz mais do que distribuir canas. Esta ensina a pescar. CREATIVE CAPITAL

18.3.10

A maldição do Whitney




Um artigo de dimensão bíblica sobre a suposta maldição que paira sobre o Whitney Museum desde a sua fundação. O artigo já é de 99, mas os arquivos digitais têm destas coisas e podemos recuperar longas análises e histórias (por vezes o enredo é quase sul americano, mas não, trata-se mesmo do mundo sofisticado de uptown ny). Governance é tanta vezes isto, a vontade e a habilidadde de rubbing shoulders. Para quem tiver paciência e gosto, prometo boa e instrutiva leitura para o fim de semana.

Aproveitando o facto de estar a decorrer a Bienal, vale a pena espreitar o novo site, e as tentativas do museu de possiblitar ao visitante transatlântico explorar a colecção.

13.3.10

Arts Manifesto

O partido conservador inglês apresentou o seu Arts Manifesto em vésperas de poderem regressar ao poder. O tempo corre rápido hoje em dia, e o ar ainda mais, mas vésperas de eleições são sempre boas oportunidades para aferirmos o ar do tempo em termos de estratégias fazedoras de políticas.

A Direita costuma ser silenciosa nestas coisas - chamemos-lhe 'faltinha de jeito' - o que não deveria ter razão de ser. Não nos devemos esquecer que foi o gaullista Malraux o Pai do MC francês, farol que ainda hoje guia os "povos da cultura". Antes deste manifesto, apenas o Policy Exchange, o think tank que até há pouco tempo era o mais próximo de David Cameron, tinha apresentado um documento (Culture Vultures) que questionava as conquistas dos trabalhistas nos últimos 10 anos, anos supostamente áureos para as artes no Reino Unido. Este manifesto segue linhas de argumentação semelhantes, procurando afastar-se do utilitarismo das actividades culturais e artísticas (pobrezinhos, imigrantes, casas devolutas, áreas industriais, tudo seria curado miraculosamente pelo poder da criatividade; fenómeno que já podemos verificar por cá de forma mais ou menos clara) e recentrando a discussão na excelência da actividade artística.

O principal medo (e aqui temos de dar razão aos queixosos) é que a subvenção pública das artes termine ou seja ainda mais amputada. Jeremy Hunt, o equivalente inglês ao ministro da cultura da oposição garante-nos que, apesar de não saber o estado em que vai encontrar as finanças do ministério (caso lá chegue, agora em Maio), acredita no princípio do financiamento das artes.



O mais interessante continua a ser, no entanto, a insistência na diversificação dos mecanismos de autonomia e emancipação das organizações culturais, tuteladas ou não pelo Estado. Concretizando, procura promover a constituição ou o crescimento dos endownments, condicionando a maior ou menor subvenção tutelar a essa capacidade. Em Portugal, só as Fundações é que dispõem de endownments, ou pelo menos deveriam, sabendo nós que muitas das Fundações nascem subcapitalizadas, tendo como cartão de visita muitas vezes pouco mais do que património imobiliário. Nós por cá, continuamos ainda a discutir para quem revertem as receitas dos lápis e das canecas da loja do museu.

É igualmente estimulante ver também o alinhamento do 'manifesto para as artes' com as demais propostas sectoriais do eventual novo governo Conservador, alinhamento esse que se concretiza no sentido de devolução de autonomia e reponsabilidades às comunidades locais. Ainda assim, os senhores ainda não ganharam nada, pelo que é cedo para deitarmos foguetes, e sabemos também que a "devolução às comunidades" nem sempre significa um Estado menos onerado.


A cabeça, acima, é do Cícero,

Workshop de escrita de argumento . Michael Sandoval



Mais informações em Yellow Tail

[clickar em cima da imagem para melhor visualização]

4.3.10

ICA, e a saga continua




Continuação, aqui, da saga que o ICA está a atravessar. Este artigo está ancorado nas quatro questões fundamentais da vida de uma org cultural, a gestão financeira, a liderança (muito em voga, falaremos disto em breve) e a governance, e questão fundamental: para que serve a organização? É útil? A missão fundadora ainda faz sentido passados tantos anos? A perda de contacto com essa missão leva, quase sempre, à perda de identidade.

Veja-se no arquivo da Tate, aqui e organizado por décadas (ferramenta óptima), o papel importante que o ICA teve nas últimas décadas. Não é fácil ser vanguarda numa época em que este termo quase não tem aplicação, mas faz pena ver este sítio transformado em alvo de chacota e transformado em mero promotor indistinto de eventos vagamente contemporâneos. A imagem acima é um programa dos filmes de Kenneth Anger em 1955 (que passou pela ZDB, Serralves e Cinemateca no ano passado).

Agradecimentos à Maria V pelo alerta.

3.3.10



move it buddy, we've got an installation to installate

Montagem, na passada sexta feira, no Hermitage Museum de Amesterdão da exposição "Matisse to Malevich: Pioneers of Modern Art from the Hermitage"

2.3.10

Autorizado a falhar



A expressão inglesa allowed to fail (ver texto linkado no post anterior) não tem praticamente aplicação em Portugal. Não me refiro à dificuldade de tradução (autorizado a falhar?), mas ao facto das nossas organizações culturais, sob tutela do Estado, não estarem autorizadas, de facto, a falhar. Não por serem movidas por um desejo incontrolável de cumprir com as suas obrigações, assegurando assim uma vida longa e saudável, mas porque, na maior parte dos casos, raramente são 'deixadas cair'. Podem reduzir na programação, podem cortar em futuras produções, mas raramente vêem a sua viabilidade questionada (ou os seus quadros reduzidos). E assim prosseguem uma vida moribunda, desrespeitando as suas audiências e, em última análise, os contribuintes. Try better, fail better, bla bla bla....

A imagem é da Orquestra de Filadélfia. Haverá poucas orquestras nos Estados Unidos com tanta história como a de Filadélfia e esta corre o risco muito real de fechar. Para fazer face a essas dificuldades, os músicos estão dispostos a fazer vários tipos de cedências salariais. Ler, aqui, o que por lá se passa.

1.3.10

Des-institucionalização


Um excelente - e raro - artigo sobre a vida de uma organização cultural contemporânea e o papel dos centros culturais multidisciplinares no século 21. O ICA está a atravessar uma fase especialmente crítica e tem em curso diferentes iniciativas para encontrar uma solução. São várias as causas apontadas para o actual estado da instituição, desde gestão financeira ingénua a práticas de governance frágeis. É particulamente interessante ver os problemas que emergem das dinâmicas pessoais dentro de um board, sem dúvida um dos aspectos mais estimulantes da governance das organizações culturais (um tema que me é especialmente caro). O projecto do seu director prevê um programa de "des-institucionalização", prototyping a lightweight, responsive arts organization able to cope with more straitened and complicated times. É revelador também da tensão, não exclusiva do Reino Unido, entre a erosão da expertise artística e intelectual nas organizações e a crescente burocratização e tecnocratização das mesmas. Este texto questiona igualmente as responsabilidades das organizações perante as comunidades artísticas que deve, de acordo com a sua missão estatutária, representar. Enfim, este texto, só por si, merecia um blog para o poder dissecar calmamente. Pode ser encontrado aqui.

28.2.10

mais estágios

Ainda, os estágios não remunerados...

Indeed, the vast majority of internships are only doable by middle-class children with what are politely termed "connections', or at least financial support, and some form of parental roof over their heads. And while no one begrudges these kids, with their poorer contemporaries probably prepared to chew their own arms off at the elbow for a tenth of their opportunities, one draws the line at feeling sorry for them.

25.2.10

Crises



O mundo atravessa uma recessão como não há praticamente memória, em Portugal as taxas de desemprego atingem máximos nunca vistos e o défice orçamental está quase nos dois digitos. Economias bem mais sólidas do que a nossa, como a americana ou a inglesa estremecem, e com elas as suas organizações culturais. E estremecem, não porque vêem as subvenções estatais reduzidas, mas porque perdem fontes de rendimento, perdem financiamento privado, mecenático e patrocínios, e porque as bilheteiras e as suas lojas têm menos procura. País feliz, o nosso, que não tem que se preocupar com essas minudicências. O Estado dá ou não dá. Tudo o resto não conta e isso permite-nos atravessar tranquilamente uma crise como a que presenciamos, uma crise que é uma oportunidade quase irrepetível de reavaliar os modelos de governação das nossas organizações culturais, e com estes formas alternativas de financiamento, de auto-responsabilização, de emancipação ou de oferecer algo às comunidades em que se inserem.

24.2.10

NY Philarmonic iTunes Pass




A NY Philarmonic lançou um iTunes Pass que, mediante assinatura, permite o download de música interpretada pela Orquestra. Feita a assinatura, o download é automático, à medida que a música for sendo disponibilizada, e pode chegar a qualquer hora. Nice.

23.2.10

Future will be fine



Há actividades que pelo fascínio que exercem têm a capacidade de atrair profissionais dispostos a não serem remunerados. A foot on the door, pensam. A questão dos estágios pagos, ou não, no sector das artes, aqui. Este blog não vai ser local de reinvindicações nem local de exposição de injustiças, mas pagar pelo trabalho de um profissional, por muito inexperiente que seja, é de elementar justiça.

19.2.10

uma pequena enfermidade

A doença de Baumol, ou a doença dos custos, procura explicar a impossibilidade ou a dificuldade de certos sectores do sector público, nomeadamente o da saúde, em aumentarem a sua produtividade na medida igual do crescimento dos salários. A demonstração original deste fenómeno explicava que o mesmo quarteto de cordas de Beethoven não viu a sua produtividade aumentar ao longo do tempo. Os mesmos 4 músicos necessários à interpretação do quarteto na altura da sua composição continuam a ser necessários 200 anos mais tarde. E os seus vencimentos subiram significativamente. Fenómeno estudado em todas as aulas preparatórias de gestão cultural e das artes, explica a inevitabilidade dos custos nunca decrescentes de muitas actividades artísticas.

Esta enfermidade servirá de mote a este blog, que procurará ser um pequeno agregador, muito subjectivo e muito temperamental, de algumas notícias e acontecimentos relacionados com o dia a dia das organizações que se dedicam às actividades culturais e artísticas. Em Portugal e não só.

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